sábado, 5 de julho de 2014

Mirante do Talhado - Olho d'Água do casado/Alagoas

Um dos passeios que exploram a beleza do Rio São Francisco é o do Mirante do Talhado, localizado em Delmiro Gouveia.
Aproveitamos o feriado de véspera de São João + Jogo do Brasil na Copa. 

Partindo de Delmiro Gouveia ou de Olho d'Água do Casado, a estrada é a mesma: AL 220, que estava uma porcaria, vale destacar.


Placa sinalizando o acesso ao mirante


Saindo da AL 220, pegamos uma estrada de barro até o destino. Não lembro quantos km de distância.
Junho é mês chuvoso e passamos por inúmeras poças de lama.
O carro era off road e passamos tranquilos. Se fosse o meu, popular, não rodava 1 km sem atolar.
No período seco dá pra passar sem problemas.


Fiu fiu!


O caminho tem placas de sinalização. Não tem como perder-se.

2 km


Chegamos, estacionamos, entramos e o cachorrinho (que atende por Malandrinho) não saiu do lugar.
10h da manhã, sol castigando, e ele nem aí.

Malandrinho
Agora a recepção calorosa: Nina!
Uma simpatia!!
Quando não tem guia disponível, ela leva os turistas pela trilha.
Linda! Uma lady!

Nina!!

A instituição "Mirante do talhado" tem como base uma propriedade com restaurante, chalés e área de lazer.
O Sr Francisco e sua família são os responsáveis. E foi quem nos acompanhou até a Gruta do Talhado.

Começamos conhecendo o local de partida.
Esta carroça foi utilizada na novela da Globo -Cordel Encantado - filmada na região.
Segundo o Sr Francisco, foi o transporte que o rei não-sei-de-onde usou pra alguma coisa que esqueci. Não assisti. :p

Ele resgatou a carroça, jogada no rio para as gravações (sem causar prejuízo ao meio ambiente).
E foi autorizado a deixar para exposição.


Ambiente familiar



Recebemos uma pequena palestra sobre o lugar, com explicações sobre as atividades oferecidas e que, pra nossa frustração, rapel e tirolesa são liberados apenas sob supervisão de uma empresa terceirizada, previamente agendados, preferencialmente nos finais de semana (era plena segunda-feira).

.


Esperamos um casal baiano que estava hospedado nos chalés.
Chegava perto das 11h e foi aparecendo preocupação sobre o tempo curto que sobrava.

Sr Francisco


A família do Sr Francisco tem uma posição muito legal, no que se refere ao meio ambiente. Além de conscientizar os visitantes sobre preservação e manutenção das trilhas, rios, flora e fauna; investem em um trabalho bacana com garrafinhas plásticas.
Esta barraquinha foi construída com garrafas descartáveis e areia.



Garrafinhas para o próximo empreendimento
Depois de uma longa espera (ou apenas longa ansiedade), Sr Francisco deu uma bronca leve no casal que, além de atrasar a saída, estavam de chinelos e totalmente inapropriados para uma trilha.
Acertamos em R$ 15,00 por pessoa e partimos assim mesmo.
2400m até a Gruta do Talhado.



De quando o sertão era mar...

Como o tempo era curto, optamos por uma trilha sem escalas.
Não adiantou muito. O Sr Francisco parou mil vezes, de todo jeito.
Sempre disposto e com total domínio sobre o espaço, nos presenteou com informações interessantíssimas sobre idade das árvores, época para plantação de determinadas espécies, ervas medicinais e afins.

Árvore bicentenária

Num ponto estratégico da trilha, o guia fez uma parada e pediu para ficarmos lado a lado, formando uma parede de frente para ele, com as mãos dadas.
Foi um pouco esquesito.
Começou falando da Mãe Terra e emendou com uma oração. O rapaz baiano riu e levou outra bronca (agora pesada).

O propósito era coroar o fim daquela parte da trilha e apresentar a nova paisagem que nos seguiria até o Talhado.
Coisa linda!
Cânion do rio São Francisco

Estes cabos são da tirolesa. Segundo o Sr Francisco, é curta mas veloz. :)

Gente afoita
A partir daí a vista foi esta. O rio São Francisco fala por si e justifica minha paixão por ele.


O rapel é executado neste ponto do paredão. Tem uns grampos pré-fixados e ficamos só na vontade...
O sol do meio-dia estava inspirado e o casal baiano atrasando a trilha, desequipados e cheios de selfies.
A intenção deles era apenas andar de caiaque e não estavam muito preocupados com nosso relógio.

Como tenho um discreto probleminha com falta de paciência, ansiedade e gente sem noção, já comecei a ficar irritada. Fingir simpatia é uma das coisas que preciso aprender antes de morrer.




Este espaço é reservado para vigília e oração em datas religiosas.
A família do Sr Francisco passa a noite inteira aí, meditando, admirando a lua e recebendo a energia boa do rio.
Achei fantástico!



Chegamos ao final da trilha sobre o cânion. Agora é descer o paredão.
O "Porto de Brogodó", também usado na novela Cordel Encantado, visto por cima, é local de parada e banho.
Este cercado possui 10 m de profundidade.


Animação pura! Nosso espírito aventureiro estava nas alturas.
A descida não é difícil. Com apenas três ou quatro pontos que mereciam  cuidado ao passar.

Três ou quatro pra quem estava de tênis e interessado naquele tipo de atividade.
Pra quem estava de havaianas e tirando foto da própria cabeça, foi muito mais difícil.
O lado encrenqueiro estava entrando em ação quando percebi que era melhor ajudar o pessoal café-com-leite e chegar mais rápido.
(Muita humildade numa pessoa só!)

Olha aí a desenvoltura, traquejo e eficiência de quem está fazendo trilha pela terceira vez na vida.
Com direito a tutorial para descida na pedra.







Por fim, a Gruta do Talhado.
A dimensão é surpreendente. 
Pesquisando, descobri que este nome se deve ao formato dos paredões. Parece ser talhado à mão.

Gruta do Talhado

Agora, sim, fim do percurso.





Fomos de canoa até o tal Porto de Brogodó.
Acertamos com Iran, filho do Sr Francisco, e ele ficaria disponível o resto do dia conosco (com seu barquinho motorizado).
R$ 40,00 para cada um.
Estava ótimo!

O casal, depois de consumir uns 20 minutos do nosso curto tempo, acertando alguma coisa com o Sr Francisco, finalmente separou-se da gente e pegou um caiaque.

A intenção era subir um nível de dificuldade no nosso histórico de escaladas, mesmo esta sendo apenas a segunda.
Rio São Francisco

E psicobloc é o nome do negócio!!
Consiste em escalar um paredão, sem equipamento de apoio.

A parede era suficiente pra intimidar e mandar de volta pra casa. Especialmente quando descobrimos que é necessário sapatilha e um pó próprio para as mãos.

Além da minha completa falta de habilidade, estava preocupada sobre como subir no barco novamente. E isto quase me fez desistir e ficar só fazendo as fotos.




Profissional!!




Amadora!
Esta foto é o resumo da minha vida de "psicobloqueira". Não passei daí.
Como imaginava, não consegui subir no barco.
Foi batendo o desespero e cogitei voltar pendurada, agarrada na lateral. Iran proibiu, lógico!
Um drama e nada de sair da água.

E quem chega com o rabinho balançando, pedindo pra subir no barco e tentar o paredão?
O casal baiano!

Estava morta de vergonha por não conseguir sair da água e ainda aparece aquela platéia que atrasou meu passeio...





Por ironia do destino, só consegui entrar no diabo do barco graças ao caiaque deles.
Arrependimento total por todos os xingamentos que mentalizei desde o primeiro momento.
Somado aos milhões de "tá vendo?" dos meus dois amigos.

Mas que eles atrapalharam, atrapalharam!

Todos no barco, seguimos 12 km pelo rio, numa conversa extraordinária sobre a eleição que se aproximava e os prós e contras dos políticos da Bahia e Pernambuco.

Como admitiram que baiano se deixa levar (palavras deles!!!), nem precisei destacar a superioridade explícita que todo pernambucano humilde e modesto aprende assim que nasce.
Cada um reconhecendo seu lugar na hierarquia do barquinho, a viagem foi bastante rica e divertida.

Bairrismos à parte, eles foram muito simpáticos e amistosos.

Nosso destino era o Vale dos Mestres.


Pequena baía escondida entre os paredões do rio.
A foto promocional é belíssima e nos encheu de curiosidade.



A realidade foi um pouco diferente. 
Achei desconfortável e sujinho.
Ficamos pouquíssimo tempo na água.
Os baianinhos (muito legais e amáveis) nem desceram do barco. E eu deveria ter feito o mesmo.

Quase 15h e lembramos de almoçar. As mochilas repletas de biscoitos, salgadinho e chocolate foram a salvação.
Os baianos não levaram nenhum caroço de ervilha e partilhamos nosso banquete.
(inclusive, beberam minha água sem avisar... e isto nos deixou quites com o resgate pelo caiaque)


O espetáculo do retorno foi garantido pelo rio. A chuva ensaiou uma queda, mas não ofuscou.
É bonito demais!
Imponente.


Paredão do rapel


Pegamos uma trilha leve para retornar. Acesso fácil. Voltamos sem guia.



Foi um passeio cheio de surpresas e quebra de limitações físicas e ideológicas.
Agradecimentos ao Sr Francisco, pela disponibilidade, e ao Iran, pela paciência em ouvir tanta abobrinha.

Agora era voltar correndo pra casa...

Brasil 4 x 1 Camarões

Estávamos nas oitavas de finais!





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